Caí tantas vezes que todos os ferimentos que se espalham pelo meu frágil corpo parecem não doer mais. As inúmeras vezes que me ordenas levantar, lembrando-me do quão ridículo pareço eu quando estou deitada no chão, indefesa, trazem-me uma nova força que não se esvai facilmente. É raro, mas transformas todo o meu sofrimento num peso leve, como se estivesses disposto a carregá-lo comigo. O teu olhar, desaprovador, faz-me sentir envergonhada por cair tão facilmente, lembrando-me que sou muito mais forte do que aquilo que demonstro aos demónios que me consomem. O vento muda, as chamas intensificam-se, formando um círculo que me aprisiona e que se torna cada vez mais apertado. Estás longe, demasiado entrelaçado no olhar de outra pessoa para reparares nas chamas que me começam a percorrer o corpo, dispostas a acabar com o pouco que resta dele. É tão estranho como abres caminho por entre as chamas, como se fizesses parte delas, acabando com o fogo que me fere pouco a pouco. Não me dás a mão, mas ofereces o mais caloroso toque que se assemelha a um sopro que afasta as chamas quentes do que se torna o meu gelado coração, deixando-o frio, forte. Afastam-te, todos eles, mas eu insisto em manter o braço estendido na tua direcção, pedindo ajuda. Não demoras a dirigir-te a mim com um simples sorriso verdadeiro que te custa a manter vivo, conseguindo sempre que sorria instintivamente, sem rodeios. Caminhamos pelas chamas juntos, separados pelo muro que o meu coração insiste em construir. Eu oiço-te, independentemente do quão alto os meus fantasmas gritam que eu retorne ao beco escuro no qual me escondo. Tu encontras-me sempre, não me deixando afogar na escuridão em que a minha mente se encontra. Confio de olhos fechados em ti, sabendo que não me deixarás desaparecer tão facilmente nos cantos mais obscuros do meu coração. Se existe amor, o que sinto por ti é o mais puro. És como um irmão de sangue, e eu sei que venha o que vier, não me deixarás sozinha neste caminho de chamas que parece não ter fim.

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