As chamas estendem-se até ti, queimando-te. Os demónios consomem a tua voz deixando-a fraca. A lua deixa de ter cor quando os teus olhos não se dirigem a mim. A chuva que mantém o fogo estável pára quando o teu nome é proferido.  O tempo pára quando cada batida do meu fraco coração bate em teu nome, deixando-me instável e despedaçada. Os demónios consomem o amor que sinto por ti transformando-o em mais uma rajada de vazio e desespero. Gostava de poder sorrir-te sem uma dor escondida por entre os cantos mais fundos do meu coração. Sangue e lágrimas derramadas por um sentimento que me parece infinitamente profundo levam-me a crer que o sol nunca se porá para nós outra vez. Lágrimas pesadas fiáveis ao desespero de te ires embora sem olhar para trás caem sem parar, deixando os meus olhos inchados, desejosos por sangue. A minha obsessão consome as mais puras palavras que possas proferir transformando-as no maior pesadelo que alguma vez terei, deixando-me mais uma vez abalada pela dor. Se pudesse trocaria a minha vida por ti sem pensar duas vezes, deixando-me perceber que não conseguirei sobreviver se continuar a trocar tudo o que tenho por mais um dia contigo. Adeus era a última palavra que queria ouvir, mas neste momento sou obrigada a dizê-la por ti.
Caí tantas vezes que todos os ferimentos que se espalham pelo meu frágil corpo parecem não doer mais. As inúmeras vezes que me ordenas levantar, lembrando-me do quão ridículo pareço eu quando estou deitada no chão, indefesa, trazem-me uma nova força que não se esvai facilmente. É raro, mas transformas todo o meu sofrimento num peso leve, como se estivesses disposto a carregá-lo comigo. O teu olhar, desaprovador, faz-me sentir envergonhada por cair tão facilmente, lembrando-me que sou muito mais forte do que aquilo que demonstro aos demónios que me consomem. O vento muda, as chamas intensificam-se, formando um círculo que me aprisiona e que se torna cada vez mais apertado. Estás longe, demasiado entrelaçado no olhar de outra pessoa para reparares nas chamas que me começam a percorrer o corpo, dispostas a acabar com o pouco que resta dele. É tão estranho como abres caminho por entre as chamas, como se fizesses parte delas, acabando com o fogo que me fere pouco a pouco. Não me dás a mão, mas ofereces o mais caloroso toque que se assemelha a um sopro que afasta as chamas quentes do que se torna o meu gelado coração, deixando-o frio, forte. Afastam-te, todos eles, mas eu insisto em manter o braço estendido na tua direcção, pedindo ajuda. Não demoras a dirigir-te a mim com um simples sorriso verdadeiro que te custa a manter vivo, conseguindo sempre que sorria instintivamente, sem rodeios. Caminhamos pelas chamas juntos, separados pelo muro que o meu coração insiste em construir. Eu oiço-te, independentemente do quão alto os meus fantasmas gritam que eu retorne ao beco escuro no qual me escondo. Tu encontras-me sempre, não me deixando afogar na escuridão em que a minha mente se encontra. Confio de olhos fechados em ti, sabendo que não me deixarás desaparecer tão facilmente nos cantos mais obscuros do meu coração. Se existe amor, o que sinto por ti é o mais puro. És como um irmão de sangue, e eu sei que venha o que vier, não me deixarás sozinha neste caminho de chamas que parece não ter fim.