O suor torna-se espesso, deixando-me abalada pelo sol que parece arder tanto como a profundidade da dor no meu invulnerável corpo. Há uma nova brisa que me alivia o espírito, deixando-o consolado por uns preciosos segundos. As memórias apagam-se, esvaindo-se em pedaços de alívio que deixam o meu coração respirar com pontadas de liberdade. Ao contrário do que normalmente acontece, estas não me deixam um peso que me destrói interiormente,  mas sim uma ponte para o sol que se põe sem eu ter notado, pelo vento quente que me aconchega o corpo agora também quente, lembrando-me do quanto viva me posso sentir com apenas um ao olhar para o céu límpido. Ao invés de um sol divido pelo ferro da minha própria jaula, aquela que me prende ao mais desesperante grito, uma nova força cresce instintivamente dentro de mim deixando-me atravessar aquela que teimosamente continua a aprisionar-me. Quantos mais obstáculos se atravessam no meu caminho, quanto mais apertada a minha cela fica, quanto mais alto o muro se impõe à minha vontade, mais forte fico eu aprendendo a preencher os espaços vazios, a combater o muro que se atravessa no meu trilho, a afastar todos os fantasmas da minha mente que tentam consumir a minha alma vazia mais uma vez. E é aí que percebo que mesmo que um dia desista, o sol vai continuar a brilhar, o mar vai continuar a ter ondas que uma vez me fizeram sentir livre, que o vento vai continuar a ser o mesmo de sempre. O que apenas poderá mudar é o facto de eu não os poder sentir com uma segunda chance, mas isso não interessa, pois enquanto tiver forças todos aqueles pequenos pormenores que parecem indiferentes à maior parte das pessoas, pintam a minha vida de uma nova cor, uma cor só minha.

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